sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

À conversa com...

Stefan Dorra é um designer de jogos, alemão, com uma "carteira" de jogos assinalável,onde se destacam For Sale, Medina e Kreta.

O JE propôs-lhe uma entrevista, já no ano passado, que na altura não se pode concretizar, entretanto, depois de novo pedido, o convite foi aceite e é dessa entrevista que damos agora testemunho.

O JE agradece a ajuda preciosa de algumas pessoas que colaboraram de forma altruista nas traduções desta entrevista, nomeadamente: Gonçalo, Regina e Susana. Como sempre estamos abertos às vossas sugestões e comentários.

JogoEu (JE) - Enquanto criador de jogos, como se define?

Sefan Dorra (SD) - Ocupo-me com a criação de jogos como hobby. Muito do tempo é passado com a minha família e no meu trabalho como terapeuta da fala. Para além dos jogos, tenho também as paixões de viajar e Badminton.

JE - Os jogos fazem parte do seu quotidiano ou só joga de vez em quando?

SD - Na verdade, ocupo-me diariamente com jogos. Não há quase dia nenhum que passe sem que eu jogue com amigos, ou que não lime as arestas a uma ideia de jogo nova.

JE - Até hoje qual o jogo que continua a dar-lhe maior prazer em jogar? Porquê?

SD - Há muitas alturas nas quais jogo com especial prazer e frequência um determinado jogo. Muitas vezes tratam-se de jogos de cartas. Lembro-me que numas férias jogávamos diariamente “Mamma Mia”. Quem perdia tinha depois de lavar a loiça. Jogamos recorrentemente “Die Sieben Siegel”, da minha autoria. Neste momento jogamos frequentemente Dominion.

JE - Acompanha o trabalho de algum criador com particular atenção?

SD - A mim interessam-me especialmente os jogos do Uwe Rosenberg. Jogos como o já mencionado “Mamma Mia”, “Bohnanza”, “Agrícola”, ou o novo “Le Havre”, são para mim muito cativantes.

JE - Joga muito em família? Pode contar-nos um pouco mais sobre esses momentos.

SD - Sim, tenho a felicidade que a minha mulher e filhos, e também os seus amigos, também gostem muito de jogar. Na nossa família joga-se quase todos os dias. Temos sempre curiosidade com os novos jogos e há frequentemente a hipótese de testar novas ideias e variantes de jogo.

JE - Quando é que percebeu que tinha qualidades para inventar jogos?

SD - Na minha juventude, costumava expandir com amigos jogos como o Risco ou Stratego, com regras próprias. Durante a faculdade, comecei então a desenvolver jogos especialmente pedagógicos para alunos com necessidades linguísticas especiais. Pouco tempo depois, apareceu o “Razzia”, o meu primeiro jogo “a sério”. O “Razzia” foi publicado pela Ravensburger em 1992 e nomeado para a Lista de Escolhas para Jogo do Ano. Isto foi uma grande motivação para eu continuar a criar jogos.

JE - Na sua opinião a crise económica em que o mundo está mergulhado terá efeitos nas vendas de jogos?

SD - Não acredito que a crise económica vá ter grandes efeitos na venda de jogos. Quem prescinde de grandes despesas, como um carro ou uma viagem, fica em casa e talvez se dê ao luxo de comprar mais um CD, um livro novo ou um jogo excitante.

JE - Gosta mais de criar jogos ou de jogar jogos? Porquê?

SD - Os dois estão interligados. Não se consegue com certeza criar um jogo sem que se goste de jogar. Fico feliz com cada jogo novo e excitante, e com cada ideia de jogo nova e prometedora.

JE - Qual a sua opinião sobre o aparecimento de tantos jogos de estilo cooperativo neste último ano?

SD - Pessoalmente, não sou grande amigo de jogos cooperativos. Gosto quando no jogo se pode tomar acções tendo os outros jogadores como alvo. Gosto de jogos interactivos e jogos onde há mecanismos de negociação ou de leilão.


JE - Em poucas palavras diga-nos quais os padrões que identificam os criadores… franceses, ingleses, italianos, checos, polacos, americanos, alemães.

SD
- Não gosto de rotular as pessoas. Não seria correcto avaliar um autor de jogos pela sua nacionalidade. Claro que há, por exemplo, jogos de conquista dos EUA que devido ao seu tema e grafismo dificilmente seriam editados na Alemanha. Mas muitos jogos de autores americanos, tais como os de Alan Moon (Airlines, Capitol, Ticket to Ride), ou checos, tais como Vlaada Chvatil (Galaxy Trucker) poderiam perfeitamente ter sido concebidos por autores alemães ou franceses.


JE - Qual é o jogo que lhe falta fazer?

SD - Há um jogo que eu adoraria publicar, mas que ainda que não consegui convencer nenhuma editora a fazê-lo. Mas o que não é, ainda pode vir a ser (um antigo provérbio alemão). Porém, não falarei aqui sobre os seus conteúdos.

JE - Foi à feira de Essen este ano? O que lhe pareceu?

SD - Eu visito a Feira de Essen todos os anos, e para mim esta Feira é o ponto alto do ano dos jogos. Podemos lá encontrar muitos autores e Redactores, e podemos admirar cada novidade que surge. Dou assistência regularmente ao Stand da SAZ em Essen (o stand da Corporação dos Autores de Jogos), e aí encontro jogadores e jogadoras muito interessantes.

JE - Dos jogos que já criou, qual ou quais é que gostou mais de criar?

SD - Há mais do que um jogo que trabalhei durante muito tempo, e onde notei que o jogo melhorava cada vez mais com o passar do tempo. A criação dos jogos “Intrigue” e “Medina” foi para mim especialmente interessante e excitante.

JE - Dos jogos que já criou, qual ou quais gosta mais de jogar?

SD - Gosto muito de jogar jogos de cartas. Dos meus próprios jogos de cartas, os que eu gosto mais de jogar são: “Land Unter”, “Njet” e especialmente “Die Sieben Siegel”.

JE - Já visitou Portugal alguma vez?

SD - Já estive até agora duas vezes em Portugal. Fomos de carro de ambas as viagens e viajámos por todo o país por nossa própria conta. Acho Portugal realmente muito interessante e de certeza visitarei o país mais frequentemente. Agradou-me particularmente o Norte; aí há paisagens verdes, praias solitárias, e cidades muito arcaicas e fabulosas, com edifícios antigos e ruelas estreitas.

JE - Muito obrigado pela sua entrevista.

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